quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um dos poemas que mais gosto no livro

QUERER



Queria te encontrar,
Se me encontrasse...
Queria contigo sonhar,
Se comigo sonhasse...
Queria te ouvir,
Se me ouvisse...
Queria te ver,
Se me visse...
Queria te falar,
Se comigo falasse...
Queria te abraçar,
Se me abraçasse...
Queria te querer,
Se me quisesse...
Queria te beijar,
Se me beijasse...
Queria te amar,
Se me amasse...
Queria...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Atenção, publiquei meu primeiro livro.

Ufa! Publiquei meu primeiro livro. Seu título é "A estranha dinâmica estética dos postes", é um livro de poesias com poucas páginas. Foi difícil, mas consegui. Valeu a pena. Espero que todos gostem do que escrevi e já estou preparando o próximo. O livrinho custa R$ 3,00 e podem adiquiri-lo comigo mesmo via e-mail (mboiuna@yahoo.com.br) ou pelos telefones (31) 3629-6445 ou (31) 8648-7005. Obrigado a todos que tornaram possível esta obra de alguma forma.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Trabalho 6

A Cartomante – A versão de Clóvis


(Elizabeth Félix, Camila de Sousa, Chayane Ribeiro, Augusto Damasceno, Rodrigo Soares, Flávio Henrique e Emerson Victoriano - 201)


Tudo começou quando conheci Rita. Ela era uma bela dama, e era de classe média, eu logo me encantei. Então pouco depois, conheci Vilela na província, e nos tornamos grandes amigos, ambos estávamos seguindo a carreira de magistrado, ele sempre falava de Camilo, um amigo de infância, depois de um tempo Vilela conheceu Rita, tudo foi muito rápido, e por interesse Rita se casou com ele, após isso, Vilela abandonou a magistratura, e voltou para Botafogo, onde Camilo tinha arranjado uma casa para eles.

Vilela abriu banca de advogado, mais nós dois nunca perdemos o contato, ele sempre dava um jeitinho de se comunicar comigo. Na última carta que ele me mandou, ele estava me convidando para ficar lá alguns dias. Então eu fui, quando cheguei fiquei deslumbrado com a cidade, e fiquei também com um pouco de ciúmes de Vilela com o Camilo, mas depois eu entendi, que eu era amigo, mais Camilo era um amigo de infância, e aceitei esta situação. Pouco depois fiquei sabendo que a mãe de Camilo havia falecido, e acho que é nesse tempo Vilela tinha se esquecido de mim, mas eu entendi mais uma vez, que Vilela estava assim por que Camilo não estava em condições de cuidar do enterro de sua mãe, pois estava muito abalado. Vilela pela grande amizade que tinham estava cuidando de tudo, do enterro, dos sufrágios e do inventário. No enterro notei algo deferente entre Rita e Camilo e não gostei da cena que vi, mas depois pensei que fosse apenas imaginação minha, e que eles estavam assim por causa do acontecido e não me importei.

Mas depois algo de bom aconteceu, é pelo menos para mim, Vilela estava me dando mais atenção, ele tinha conseguido até arrumar um emprego pra mim junto com ele, nesse dia ele me convidou para ir jantar em sua casa, para comemorar o meu novo emprego e conhecer melhor o famoso Camilo, o seu outro melhor amigo, por que no enterro não deu para nós nos conhecermos bem, sinceramente eu não fui muito com a cara desse Camilo, ele para mim pareceu muito falso, às vezes eu o via trocando olhares ardentes com Rita, acho que Vilela nem percebia, mas de vez enquanto eu jogava algumas indiretas, mas eu acho que ele nem entendia ou fingia-se de bobo, na hora do jantar Camilo se sentou ao meu lado e Rita sentou-se em frente a Camilo. De repente senti algo subindo e descendo em minhas pernas, era o pé de Rita. Para mim foi um momento constrangedor, eu sem poder falar não me importei e admito que até gostei, mas sabia que seus olhares sedutores não eram pra mim e sim para Camilo. Camilo não entendia o que estava acontecendo, e Vilela sorria achando as caras que fazíamos engraçadas, ao acabar o jantar me despedi, pois eu tinha que trabalhar mais cedo no outro dia. Eu e Vilela conseguimos ganhar uma causa juntos, à noite vindo embora do trabalho pensei em ir na casa de Vilela para podermos comemorar, já estava quase chegando quando me deparei com uma cena que me deixou abismado: eu vi Rita beijando Camilo, mas não era um beijo qualquer, era um beijo ardente. Fiquei enfurecido de ciúmes, e não pude fazer nada pois Vilela poderia desconfiar, então resolvi voltar para casa. Mal consegui dormir pensando na cena que vi. No outro dia mal consegui olhar para Rita, pensei em perguntá-la sobre a cena que presenciei, mas não tive coragem, a raiva me venceu.

Certo dia Vilela, Camilo e Rita tiveram a idéia de ir a uma cartomante, e me convidaram, não recusei o convite, pois achei interessante, afinal de contas nunca havia me consultado com uma cartomante. Chegando lá percebi que a cartomante olhava muito para mim, então esperei todos irem embora para me consultar. Após todos irem fiquei conversando com a cartomante. Então me impressionei com que ela havia me dito sobre o meu passado (como pudera saber tanto), me disse coisas que nem eu lembrava, mas o que mais me surpreendeu foi quando ela falou do meu caso com Rita. Fiquei sem saber o que fazer, como lhe explicar. Então ela me surpreendeu dizendo que só esconderia de Vilela o que sabia se eu passasse a noite com ela. Sem saber o que fazer não tive como recusar. Após essa noite continuei tendo um caso com ela para que ela não contasse nada a Vilela, e assim foi indo até que me acostumei com a idéia, apesar de ser apaixonado por Rita continuei com a cartomante.

Eu estava me sentindo mal por não contar pra Vilela sobre o caso de Rita com Camilo, então sempre ia a cartomante para relaxar. Ela sempre me dava bons conselhos, assim, ela começou a confiar em mim, e às vezes me contava algumas visões de alguns clientes. Um dia Camilo foi lá, e eu quase que não consegui esconder e fiquei escutando por trás das cortinas. A cartomante revelou que Rita estava grávida, mas que ela ainda não podia ver quem era o pai porque estava muito recente, eu vi que Camilo saiu atordoado e nervoso.

No outro dia de propósito, fiz com que Vilela me convidasse para ir jantar em sua casa, e convidasse Camilo, e na hora do jantar perguntei a Vilela se ele ainda pensava em ter um filho, ele me respondeu que o maior sonho dele era esse. Camilo ficou com a mesma expressão de quando ele tinha saído da casa da cartomante, não sei. Rita ficou com uma expressão triste, acho que é porque ela nunca conseguiu dar um filho a Vilela, eu particularmente achei o que eu fiz um máximo.

Logo após o jantar fui encontrar com a cartomante, e ela me disse que o filho que Rita esperava, talvez não fosse nem de Camilo e nem de Vilela, fiquei boquiaberto com o que ela me disse. De quem seria aquele filho? Não poderia ser meu, fiquei sem saber o que fazer.

Minha convivência com Vilela tornava-se cada vez mais difícil, pois eu sabia de coisas que ele não poderia nem sonhar em saber. Pois eu sabia que se ele soubesse de todos os acontecimentos, nossa amizade nunca seria a mesma. Então resolvi não contar e tentar esquecer este assunto, mas a cada minuto vinha em meu pensamento a seguinte pergunta: "De quem poderá ser o filho da mulher que eu mais amei?"

Talvez esquecer de tudo seria melhor, não só para mim, mas para todos ao meu redor, isso já estava se tornando um tormento em minha vida, pois já vinha perdendo várias noites sem dormir. Resolvi, então, contar e abrir o jogo com Vilela. Fui até sua casa, mas quando cheguei lá me deparei com Vilela e Rita conversando seriamente, Vilela ao me ver veio em minha direção e disse:

-Eu já sei de tudo!

Eu preocupado perguntei:

-Tudo o quê?

-Você tentou me esconder que Rita estava grávida, né? Mas você não conseguiu!

E abriu um grande sorriso, mostrando estar radiante de felicidade. No início pensei que Rita estava fazendo errado, pois ela estava mentindo para Vilela, mas pensei melhor e vi que era a melhor solução Vilela achar que o filho que Rita estava esperando era dele, e ele me chamou para ser padrinho de seu filho. Não tive como recusar.

Voltei a me encontrar com a cartomante e ver se ela conseguiu descobrir quem é o pai, mas quando cheguei vi que ela estava chorando. Perguntei por que ela estava assim e ela me disse aos soluços que seu marido tinha traído ela e ele era pai do filho de Rita.

Fiquei a noite toda pensando, e então decidi contar toda a verdade a Vilela, e contei tudo. Pensei que ele iria me matar, porém, ele me mandou ir embora da sua casa e nunca mais voltar. Resolvi então voltar para província, mas quando eu já estava de malas prontas, foi quando de repente alguém bateu na porta e para minha surpresa era Vilela. Ele me disse que nenhum filho ia impedi-lo de se vingar, então combinei tudo com ele e com a cartomante. Avisei que na hora nós três deveríamos estar de luvas para não deixar impressões na arma e nem nos corpos. Quando cheguei á casa de Vilela, Rita não estava lá, então ficou mais fácil de preparar a cilada, eu falei para a cartomante fazer com que Camilo fosse consultar com ela, e falasse com ele que se ele não fosse a casa de Vilela algo de ruim podia acontecer com Rita.

Rita estava chegando quando eu a surpreendi, e falei que Vilela estava no quarto e estava se sentindo mal, ela subiu correndo e eu fui atrás, e quando chegou, atirei nela. Logo após escutei alguns passos apressados, era Camilo, então sem piedade atirei, mas ele não tinha morrido. Ele foi se arrastando até perto de Rita, e quando ele a estava beijando, dei outro tiro. Ele morreu. O marido da cartomante fugiu, por que a mãe dele era vidente e falou com ele que se ele não fosse embora iria morrer.

Vilela chamou a polícia um pouco depois do assassinato, eu não me contive e comecei a rir, e até onde eu me lembro a polícia não descobriu quem foi que matou os dois. Eu me casei com a cartomante e tivemos dois filhos. Vilela não quis se casar de novo e começou a ir a festas e bares. Ele fez tudo o que não fazia quando era casado. Nós nos mudamos para Minas Gerais para uma cidade chamada Esmeraldas, e Vilela veio junto, e posso dizer que fomos muito felizes.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Trabalho 5

A Cartomante – versão de Rita

(Gabriel Couto, Gabriel Augusto, Fábio Henrique, Luis, Thiago, Eustáquio, Jhônatas, Erasmo, Eduardo e Wadson Assis - 203)

Pessoas gostam de julgar os sentimentos alheios. Inveja, é óbvio, afinal de contas, só porque reencontrei meu verdadeiro amor. Reencontrei é só uma maneira de dizer, pois nunca em verdade o tinha conhecido, até encontrar Camilo, meu príncipe encantado, é bem verdade que não era tão encantado assim: sua beleza não era do tipo em que se possa estribar, mas o que lhe faltava em beleza lhe sobejava em inteligência e simpatia. O mesmo não acontecia com Vilela. Sempre o olhar frio. Sempre as atitudes gélidas; tão concentrado em fazer justiça aos homens que se esqueceu de exercer justiça ao seu próprio coração. Todo dia a mesma frieza:

_Bom dia, Rita.

_Bom dia, eu respondia, sempre seguido de uma pergunta do tipo “Vamos passear hoje na pracinha, Vilela?”

_Não, ele respondia. Simples assim. Não. Sem explicações ou justificativas. Só não. Esse não se tornou uma pedra na minha sandália. Talvez tenha sido por esse inescrupuloso e insensível não que eu o deixe de amar, se é que eu o amei algum dia de verdade.

Um dia, Vilela decidiu largar a magistratura e abrir uma banca de advogado. Nos mudamos da província onde morávamos e fomos morar em uma casa lá para os lados de Botafogo. Quem lhe arranjou foi Camilo, um velho amigo de infância seu; Vilela sempre falava dele para mim. Mal sabia eu que minha alma haveria de se enamorar pela dele.

Ao tornarmos posse da casa, ele veio nos receber. Depois de Vilela ter me falado tanto a respeito dele, passei a imaginá-lo. De repente a porta bate e eu vou atendê-lo. Ao abrir a porta, espantei-me. Idealizei-o tanto que ,pensando em mim mesma disse: “_Pensei que fosse mais alto! Poderia ao menos ser bonito!”

Apesar do susto, recuperei-me rapidamente e, em seguida, com um certo ar de ironia, estendi-lhe a mão e exclamei-lhe:

_É o senhor? Não imagina como seu marido é seu amigo: falava sempre do senhor. Ele permaneceu calado. Aparentemente não me deu muita atenção. Estava concentrado em rever o velho amigo de infância. Era natural depois de tanto tempo. Observei como eles se olhavam com ternura. Verdadeiramente eram muito amigos. Camilo, ao contrário de Vilela, era moralmente ingênuo. Talvez tenha sido isso o que mais me chamava atenção a princípio.

Camilo passou a freqüentar nossa casa. Freqüência trouxe convivência e convivência trouxe intimidade.

Poucos dias depois morreu a mãe de Camilo. Vilela se dispôs a cuidar do enterro e do inventário. Eu me empenhei-me a dar-lhe apoio emocional. Foi a partir daí (como, ou quando,eu não sei) que passei a ter a certeza de que o amava.

Gostava de passar as horas ao lado dele. Ele estava com o coração ferido e doente. Eu me senti na responsabilidade de ajudá-lo.

Percebi o quanto éramos compatíveis. Líamos os mesmos livros, passamos a ir juntos a passeios e a teatros. Todas as noites jogávamos damas e xadrez. Ele mesmo foi quem me ensinou. Eu sempre joguei mal. Percebi que ele, para me ser agradável, jogava um pouco menos mal, embora ele mesmo não se dava conta de que o tinha percebido.

Um dia, chegou-se uma encomenda lá em casa no nome de Vilela: era uma bengala. Pensei em mim mesma se Vilela estaria se preparando antecipadamente para a velhice, mas a idéia me soou tão absurda que fui obrigada a tirar a limpo:

_Vilela, que bengala é essa que você encomendou?

_É para o aniversário de Camilo.

_Que dia?

_Hoje.

Por curiosidade perguntei, e para meu desespero obtive a resposta. O que faze? Como obter um presente em tão pouco tempo?

O vento do destino então parece soprar a meu favor: um menino vendedor de cartões, passava na rua. Apressadamente comprei-lhe um cartão, respirando aliviada. Foi enviado junto ao presente de Vilela. Palavras simples, mas de coração.

Pouco tempo depois, repentinamente, Camilo passou a visitá-nos raramente, até que suas visitas cessaram.

Cheia de preocupações, medos, dúvidas e desconfianças, corri a uma cartomante, para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Ela restituiu-me a confiança.

No dia seguinte, consegui me encontrar com Camilo. Contei-lhe o que tinha acontecido. Ele riu de mim. Respondi-lhe:

_Ria, ria. Os homens são assim: não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era .Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa...” Confessei que sim,e então ela continuou botar as cartas. Combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo que você se esquecesse,mas que não era verdade...

_Errou! Me interrompeu, rindo.

_Não diga isso. Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua cousa. Você sabe: já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

Camilo pegou-me pelas mãos, olhou para mim séria e fixamente. Jurou que me queria muito, que meus sustos pareciam de criança: em todo caso, se eu tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois me repreendeu; disse-me que era perigoso andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...

Eu lhe disse que tive muita cautela ao entrar na casa.

_Onde é a casa? Me perguntou.

_Aqui perto, na rua da Guarda Velha: não passava ninguém nessa ocasião. Descansa: eu não sou moleca.

Camilo riu outra vez e me disse:

_Tu crês deveras nessas coisas?

_Há muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se você não acredita, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhará tudo. A prova é que eu estou tranqüila e satisfeita.

Ele poderia ter sido mais compreensível, afinal de contas eu me arrisquei por ele. Mas não importa, independentemente da opinião dele eu fui contente para casa.

Camilo recebeu mais cartas anônimas, tão apaixonadas que só podiam ser de alguém pretendente, é obvio.

Apesar disso, Camilo temia que o anônimo fosse ter com Vilela e eu concordei com a possibilidade. Para lhe acalmar um pouco disse:

_Bem, eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá apareceram; se alguma for igual, guardo-a e a rasgo...

Nenhuma apareceu. Daí a algum tempo, Vilela, Além da frieza habitual, começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Me apressei em dizê-lo a Camilo, e deliberamos juntos a respeito. Minha opinião era de que ele deveria tornar a freqüentar nossa casa, sondar Vilela, para ver se conseguia algo. Camilo discordou; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denuncia. Deveríamos ter mais cautela, separando-nos por algum tempo. Combinamos os meios de nos correspondermos, em caso de necessidade, e nos separamos com lágrimas.

Ao chegar na porta da casa. Mas e se Camilo estiver razão? Esta história de destino, intuição, cartomante, for apenas uma crendice maluca?

Bem, eu vou entrar mesmo assim. Ao entrar fiquei surpresa: Vilela, com um revolver na mão apontado para mim. Perguntei-lhe assustada o que era aquilo. Ele me respondeu com um disparo. Atônita, sentei-me sobre o canapé, sob o impacto do projétil. Contemplei a face de Vilela por alguns instantes, pensei no que tinha feito a ele. Tarde de mais. Contemplei-o até não poder contemplá-lo mais. Por um breve instante perguntei-me o que o destino me reservava.

E de repente, a escuridão... o esquecimento...

Trabalho 4

A Cartomante

Versão do ponto de vista de Vilela

(Gilvan, Jefferson, Genivaldo, Ramon, Charles – 201)

- Já faz anos desde que parti. A última vez que estive aqui ainda era jovem, cheio de vida. Disse Vilela, olhando para Rita. Ambos ainda a bordo do navio.

- Não guardo muitas lembranças daquela época, continua Vilela, mas única coisa de que vale a pena lembrar e de meu amigo Camilo, aquele sim é amigo deveras. Nós somos amigos desde pequenos, quando ainda éramos garotos. Foi naquela época que decidi seguir a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, eu achava engraçado; disse Vilela com sorriso na face, como se aquele momento acabara de acontecer; ele queria que Camilo fosse médico, mas Camilo sempre dizia que iria fazer o seu próprio futuro; depois de uma pequena pausa Vilela continua, mas agora não há mais um sorriso em sua face, e sim um olhar de tristeza; logo depois o pai de Camilo morreu, e ele decidiu então não ser nada, até que sua mãe lhe arranjou um emprego público.

Agora Vilela faz uma pausa maior ainda, deixando que apenas o som do mar tome conta do ambiente; agora Vilela já avista o porto, seus olhos brilham, e seu corpo se enche de esperança e alegria em poder voltar a sua terra natal. Então retornando o olhar para Rita Vilela completa:

- Hoje volto da província, já casado com uma moça formosa, que deveras é a mulher que amo; disse Vilela segurando a mão de Rita, que olha Vilela com grande amor e ternura.

Ambos se calam, apenas se olham.

Neste momento o navio chega a seu destino, lá já estava Camilo a espera de Vilela. Camilo então vai a bordo recebe seu grande amigo. Quando Camilo se aproxima de Vilela, logo é surpreendido pela pergunta de uma linda e formosa moça:

- É o senhor? Exclamou Rita. Estendendo-lhe a mão. Não imagina como o meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.

Vilela e Camilo olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Era a primeira vez que Vilela via Camilo depois de anos. Camilo ajudou Vilela a se instalar em sua nova residência. Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade, Camilo gostava de passar horas com os dois, principalmente com Rita: ela era sua enfermeira moral, quase uma irmã. Vilela não desconfiava de nada, pois Camilo era seu grande amigo e afinal de contas Camilo e Rita liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios, Camilo ate lhe ensinou a jogar damas e o xadrez; Vilela pensava que a proximidade vinha daí.

Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Vilela ainda pediu que Rita reconfortasse Camilo, pois ele já perdeu o pai e agora perder a mãe é um golpe muito bruto que a vida lhe deste.

Vilela teve um grande sucesso em seu trabalho de advogado. Um dia no aniversário de Camilo, Vilela o presenteou com uma rica bengala revestida de prata com detalhes em ouro. Rita não sabia o que dar a Camilo então lhe deu um cartão com um vulgar comprimento a lápis; mas Camilo não conseguia retirar os olhos daquele cartão. Seus olhos brilhavam enquanto liam aquelas palavras escritas a próprio punho de Rita.

Dias se passaram. Vilela começou a percebe o comportamento estranho de sua esposa. Ela já não o olhava com amor e ternura como antes, agia como se escondesse algo, olhava para Vilela como para qualquer outro, seus olhos eram sempre frios, assim como suas ações. Mas com Camilo era diferente, quando estavam próximos ela tinha mais vida, mais alegria. Rita começou a sair à noite, sempre dizia que ia dar uma volta para tomar um ar. Vilela já estava ficando preocupado, já quase não conseguia trabalhar direito.

Um dia Vilela resolveu seguir Rita, para ver aonde ela ia e o que ela fazia. Quando chegou a noite, esperou Rita sair, esperou um tempo e foi logo atrás. Vilela estava muito preocupado com que ia ver, mesmo assim continuou a segui-la. Rita apenas deu uma volta como tinha dito. Vilela se sentia bastante culpado por ter duvidado de Rita:

- Como posso duvidar da mulher em que fiz juras de amor eterno, pensava Vilela aflito, ela não me perdoaria nunca se soube-se o que pensei a teu respeito.

Dias se passaram. E Camilo começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este logo notou-lhe as ausências. Vilela perguntava o motivo e Camilo sempre respondia que era por causa de uma paixão frívola de rapaz. As ausências prolongaram-se, ate que as visitas cessaram inteiramente. Vilela voltou a desconfiar de Rita. Então voltou a seguir Rita. Desta vez Rita foi até a rua da Guarda Velha, a rua estava deserta, apenas Rita andava pela rua. Chegando quase no fim da rua, Rita entrou em uma velha casa, que em sua entra havia uma pequena placa, pintada à mão, com letras tortas, mas sem erro de gramática. Na placa dizia “Madame Aurora – a grande cartomante”.

Já era de se esperar, Rita toda vida foi supersticiosa, ao contrário de Vilela que nunca acreditava em nada do gênero. Vilela ficou ali, próximo a casa da cartomante durante 2 horas aproximadamente, até que Rita saiu. Rita parecia estar aliviada, o seu rosto estava repleto de esperança.

Rita continuou andando até que sumiu das vistas de Vilela. Então Vilela resolveu entrar na casa da cartomante. E dirigindo-se a ela ele perguntou:

- “Grande cartomante”! Disse Vilela com um tom de ironia, gostaria de saber o qual é o motivo de minha esposa estar tão estranha?

- Vamos ver o que os astros dizem. Disse a cartomante, enquanto colocava as cartas sobre a mesa.

- Deixe de besteira, sua velha! Interrompe Vilela, agora com um tom de sarcasmo, todo mundo sabe que isso é vigarice.

- Olha aqui meu senhor, se você acha que pode...

- Escuta, ainda não acabei! Disse Vilela em um tom de voz um pouco mais alto, interrompendo novamente a cartomante. Eu não acredito nessas coisas, mas minha esposa acredita. E se você me ajudar será muito bem recompensada. Termina Vilela, colocando uma grande quantia em dinheiro sobre a mesa da cartomante. Os olhos da cartomante queimavam, como se estivessem em brasa viva. Logo aquela velha que se dizia cartomante, disse tudo que sabia para Vilela.

Aquilo que era uma dúvida se tornou certeza: Rita estava o traindo deveras. Mas ainda não sabia com quem. Essa era a única pergunta que passava na cabeça de Vilela; com quem será que Rita esta me traindo?

- Gostaria que você continuasse a dizer a ela, e a quem perguntar sobre o assunto, que está tudo bem e que eu nunca irei descobri. E é claro, me diga tudo o que você descobrir daqui para frente. Disse Vilela à cartomante.

- O que eu ganho com isso? Perguntou a cartomante com um sorriso ganancioso na face.

- Hoje cedo enquanto andava pela cidade percebi que no final da rua há uma banca de frutas. Argumenta Vilela; uma vez por semana irei ate lá e deixarei pago uma caixa de passas.

- E o que eu farei com passas? Pergunta a cartomante.

- Aí é que está! Dentro da caixa junto com as passas deixarei essa mesma quantia. Disse Vilela já em direção à saída da casa da cartomante. Apenas faça o combinado. Termina Vilela; que continua saindo, agora já na rua.

Chegando em casa, Vilela percebe que Rita já está dormindo. Então aproveita a oportunidade para olhar as coisas de Rita; afinal ele ainda não sabe com quem Rita está o traindo. Vilela após mexer em uma caixa, em que Rita guardava seus pertence mais íntimos, achou uma carta anônima destinada Camilo, que lhe chamava de imoral e pérfido, e que sabia de tudo sobre ele e Rita.

Naquele momento Vilela olhava horrorizado para a carta, não queria acreditar que seu melhor amigo, o único deveras, iria lhe trair com sua esposa. Ele ainda estava na fase de negação. Tentou dormi, mas não conseguia, não com essa noticia. Poderia ser com qualquer um que ele iria entender, mas não com ele; seu melhor e único amigo de verdade.

Logo o dia amanhece. Agora Vilela esta na fase de aceitação. Vilela voltou a encontrar a cartomante, e a cumprir o combinado que ele fez com ela. Vilela estava cada vez mais sombrio como se a vida não importasse mais para ele. Um dia mandou um bilhete para Camilo que dizia “Vem já, já, a nossa casa; preciso falar-te sem demora”. Ele ainda não estava certo de que ia fazer. Foi em seu quarto buscou sua arma. Rita estava lá; e ela aflita perguntava o que ele iria fazer com aquilo. Vilela não a respondeu nada. Apenas dirigiu-se para os fundos de sua casa. Ele estava frio, sem nenhuma expressão em sua face, como se não existisse mais vida ali. Rita foi a seu encontro chorando.

- Você já sabe de tudo, não é? Pergunta Rita horrorizada ao ver o estado do marido. Não foi nossa culpa apenas aconteceu. Completa Rita aos prantos.

Neste momento Vilela aponta o revólver em direção a sua cabeça com intenção de suicídio. Mas Rita puxa a arma antes do disparo assim acertando seu peito. Rita caiu ali, morta, toda ensangüentada. Neste momento Vilela desiste do suicídio e conclui: Isto tudo e culpa daquele ingrato, mentirosos, que eu considerava um irmão, meu único amigo que confiava de verdade. Ele sim deve morrer!

Essas palavras ficavam se repetindo na mente de Vilela até que ele ouve alguém chegar. E o Camilo só poder ser; ele pensa. Vilela vai ao encontro de Camilo. Um silêncio absurdo toma conta do ambiente. Vilela então faz um sinal para Camilo o acompanhar ate os fundos da casa, onde esta o corpo de Rita. Como se ele quisesse que Camilo visse Rita pela última vez, e que soubesse que é o único responsável por tudo.

Ao chegar Camilo não pode sufocar um grito de terror: - ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta. Vilela pegou Camilo pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

Agora sim está tudo acabado; pensou Vilela; Agora vocês podem permanecer a eternidade juntos.

Trabalho 3

A Cartomante – Versão de Camilo

(Emerson Pacheco, Cheyene Ayssa, Najara Eli, Priscila Nayara, Regiane Valadares, Dayane Barbosa, Jéssica de Almeida, Jéssica Aparecida, Camila de Azevedo e Renato – 201)

Numa sexta feira de Novembro de 1869, eu, Camilo, ria de Rita pelo fato de ela ter ido consultar uma cartomante. Rita me disse que eu não acreditava em nada. Mesmo assim me contou que a cartomante havia adivinhado que ela gostava de mim e que tinha medo que eu a esquecesse, mas isso não era verdade. Eu a interrompi rindo. Ela me pediu para parar de rir, porque andava muito mal por minha causa. Eu lhe peguei nas mãos e disse que também lhe queria muito e que quando tivesse algum receio, procurasse a mim mesmo como cartomante. Depois eu a repreendi e disse-lhe que era importante andar por essas casas, porque Vilela podia descobrir. Ela me disse que teve muita cautela ao entrar na casa. Perguntei onde era. Respondeu-me que era na Rua da Guarda Velha e que na ocasião não passava ninguém. Pediu- me pra ficar calmo, pois ela não era maluca e eu ri outra vez. Eu perguntei a ela se realmente acreditava nessas coisas.

Ela me disse que havia muitas coisas misteriosas e verdadeiras neste mundo. E que se eu não acreditava paciência: mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Rita agora estava tranqüila e satisfeita.

Tire cuidado no que eu iria falar, pois, não queria arrancar-lhe as ilusões. Eu também, quando criança era supersticioso, tive um arsenal inteiro de crendices que minha mãe me incutiu e que aos meus vinte anos desapareceram. No dia em que deixei cair toda essa vegetação parasita, fiquei no tronco da religião, eu, recebi da minha mãe ambos os ensinos, me envolvi na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Eu não acreditava em nada e não sabia por que, me limitava a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e eu não formulava a incredulidade. Diante do mistério contentei-me em levantar os ombros, e fui andando. Separei-me dela, eu ainda mais contente que ela. Ela estava certa de ser amada; eu não só estava certa de ser amada; eu não só estava, mas via ela se estremecer e arriscar por mim, ela corria à cartomante, e, por mais que eu a repreendesse não podia deixar de me sentir lisonjeado. A casa dos nossos encontros era na antiga Rua dos Barbonos onde morava uma com provinciana de Rita. Ela desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde ela mora: eu desci pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

Vilela e eu éramos amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado, e eu entrei no funcionalismo, contra a vontade de meu pai, que queria me ver um médico, mas meu pai morreu, eu preferi não ser nada, até que minha mãe me arranjou um emprego público. No princípio de 1869, Vilela voltou da província, onde casara com uma dama formosa e tonta: abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Eu arranjei uma casa para ele para os lados de Botafogo e fui a bordo recebe-lo.

Rita me disse que eu não podia imaginar o quanto Vilela era meu amigo e sempre falava de mim.

Eu e ele nos olhamos com ternura, éramos amigos de verdade. Depois confessei a mim mesmo que a mulher de Vilela não desmentia as cartas de seu marido. Realmente era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que nós dois: contava trinta anos, Vilela vinte nove e eu vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia parecer mais velho que a mulher dele, enquanto eu era um amigo na vida moral e prática. Faltava-me tanto a ação do tempo como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência nem intuição.

Unimo-nos os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a minha mãe, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos meus. Vilela cuidou do enterro, do sufrágio e do inventário. Rita tratou especialmente do meu coração, e ninguém o faria melhor. Como daí chegamos ao amor, eu não soube nunca. A verdade é que eu gostava de passar as horas ao lado dela: era mulher e bonita. Odor di feminina: eis o que eu aspirava nela, e em volta dela, para encorporá-lo em mim. Líamos os mesmos livros, íamos juntos a teatros e passeios. Ensinei a ela as damas e o xadrez e jogava-mos as noites: – ela mal. – eu, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muitas vezes os meus que me consultavam antes de fazer ao marido, as mãos frias e as atitudes insólitas. Um dia, fazendo eu anos, recebi de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que eu pude ler no próprio coração: não consegui arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares: mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passei com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam. Eu quis sinceramente fugir, mas já não pude. Rita como uma serpente, foi-se acercando em mim, envolveu-me todo, me fez estalar os ossos num espasmo, e pingou-me o veneno na boca. Eu fiquei atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo senti de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé e aí fomos ambos estrada a fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estávamos ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.

Um dia, porém, recebi uma carta anônima, que me chamava imoral e pérfido, e dizia que minha aventura era sabida de todos. Eu respondi que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e minhas visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do meu procedimento. Viu que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que eu a repreendi por ter feito o que fez. Correram algumas semanas. Eu recebi mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas, despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: _ a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo. Nem por isso fiquei mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio, Rita concordou que era possível.

Rita disse que levaria os sobrescritos para comparar a letra com as das cartas que lá apareceram; e que se alguma fosse igual, ela guardaria e rasgaria.

Nenhuma apareceu, mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em me dizer, e sobre isso deliberamos. A opinião dela é que eu devia tornar a casa deles, tatear o marido e pode ser até que lhe ouvisse a confidencia de algum negócio particular. Eu divergia: aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mas valia nos acautelar, sacrificando-nos por algumas semanas. Combinamos os meios de nos corresponder, em caso de necessidade, e nos separamos com lágrimas.

No dia seguinte, estando na repartição, recebi este bilhete de Vilela: “Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora.” Era mais de meio dia. Eu sai logo, na rua adverti que teria sido mais natural me chamar ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se lhe trêmula. Eu combinei todas essas cousas com a notícia da véspera.

–Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, - repetia eu com os olhos no papel. Imaginariamente, vi a ponta da orelha de um drama. Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que eu o acudiria, e esperando para matar-me. Eu andando. De caminho, lembrei-me de ir a casa: podia achar algum recado de Rita, que me explicasse tudo. Não achei nada nem ninguém. Voltei à rua, e a idéia de estarmos descobertos parecia cada vez mais verossímil; era natural uma denuncia anônima, até da própria pessoa que me ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão de minhas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil viria confirmar o resto.

Eu ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos meus olhos, fixas, ou então, - o que era pior, - eram murmuradas ao meu ouvido, com a própria voz de Vilela. “Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora.” Ditas, assim, pela voz do outro, tinha um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, por quê? Era perto de uma da tarde. A emoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginei o que se iria passar, que cheguei a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrei a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse nada perdia, e a precaução era cítil. Logo depois rejeitava a idéia, vexando de mim mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num Tilburi. Cheguei, entrei e mandei seguir a trote largo.

- Quanto antes melhor, pensei eu; não posso estar assim...

Mas o mesmo trote de cavalo veio agravar-me a comoção. O tempo voava, e eu não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da Rua da Guarda Velha, o Tilburi teve de parar, a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra, Eu, em mim mesmo, estimei o obstáculo, e esperei, No fim de cinco minutos, reparei que ao lado, à esquerda, ao pé do Tilburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca eu desejei tanto crer na lição das cartas. Olhei, vi as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente destino.

Eu reclinei-me no tílburi, para não ver nada. Minha agitação era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-me voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; eu respondi que não, que esperasse. E inclinava-me para fitar a casa... Depois fiz um gesto incrédulo; era a idéia de ouvir a cartomante, que me passava ao longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu; apareceu; e tornou a esvair-me no cérebro, mas daí a pouco movi outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:

- Anda! Agora! Empurra! Vá! Vá! Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Eu fechava os olhos, pensava em outras cousas, mas a voz do marido sussurrava-me às orelhas as palavras da carta: “Vem já, já.” E eu via as contorções do drama e temia. A casa olhava para mim. Minhas pernas queriam descer e entrar... Eu me vi diante de um véu opaco... Pensei rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz de minha mãe repetia-me uma porção de casos extraordinários, e a mesma frase do príncipe da Dinamarca reboava-me dentro. “Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia...” Que perdia eu se...?

Dei por mim na calçada, ao pé da porta, disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiei pelo corredor, e subi a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas eu não vi nem senti nada, trepei e bati. Não aparecendo ninguém, tive a idéia de descer, mas era tarde, a curiosidade fusticava-me o sangue, as fontes latejavam-me, tornai a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher, era a cartomante. Eu disse que ia consultá-la, ela me fez entrar. Dali, subimos ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima havia uma salinha, mal iluminada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.

A cartomante me fez sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no meu rosto. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente olhava para mim, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e me disse:

-Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Eu maravilhado fiz um gesto afirmativo.

- E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

- A mim e a ela, expliquei vivamente.

A cartomante não sorriu, disse-me só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes, depois começou a estendê-las. Eu tinha os olhos nela, curioso e ansioso.

Eu me inclinei para beber uma a uma das palavras. Então ela declarou-me que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro, eu e o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-me do amor que nos ligava, da beleza de Rita... Eu estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

Eu, apertando a mão da cartomante, lhe disse que havia me restituído a paz ao espírito.

Esta se levantou rindo.

- Vá disse ela, ragazzo inamorato...

E de pé, com o dedo indicador, tocou-me na testa. Eu estremeci, como se fosse mão da própria sibila, e levantei-me também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato de passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e come-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Eu, ansioso por sair, não sabia como pagar; ignorei o preço.

- Passas custam dinheiro, disse eu, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?

- Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Eu tirei uma nota de dez mil reis, e dei a ela. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço era dois mil réis.

- Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem: ela gosta muito do senhor, vá, vá tranqüilo. Olhe bem a escada, é escura; ponha o chapéu... A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia comigo, falando com um leve sotaque. Despedi-me dela embaixo, e desci a escada que me levara a rua, enquanto a cartomante alegre com a paga tornava acima, cantarolando uma barcarola. Eu achei o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrei e segui a trote largo.

Tudo me parecia agora melhor, as outras cousas trazia outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Cheguei a rir dos meus receios, que chamei pueris; recordei os termos da carta de Vilela e reconheci que eram íntimos e familiares. Onde é que eu lhe descobrira a ameaça? Adverti também que eram urgentes, e que fizera mal m demorar-me tanto, podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

- Vamos, vamos depressa, repetia eu ao cocheiro.

E comigo, para explicar a demora ao amigo, engenhei qualquer cousa; parece que formei também o plano de aproveitar o incidente para tornar a antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-me na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o resto? O presente que se ignorava vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que minhas velhas crenças iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-me com as unhas de ferro. As vezes eu queria rir e ria de mim mesmo, algo vexado, mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: - Vá, vá, ragazzo inamorato: e no fim ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os dois elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.

A verdade é que o meu coração ia alegre e impaciente, pensando horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória. Eu olhei para o mar, estendi os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e tive assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.

Daí a pouco cheguei à casa de Vilela. Apeei-me, empurrei a porta de ferro do jardim e entrei. A casa estava silenciosa. Subi os seis degraus de pedra, e mal tive tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-me Vilela.

Eu me desculpei, disse a ele que eu não pude ir mais cedo perguntei o motivo da carta.

Vilela não me respondeu; tinha as feições decompostas; fez-me um sinal, e fomos para uma saleta interior. Entrando, de terror: - ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-me pela gola, e com dois tiros de revólver...



Trabalho 2

A CARTOMANTE Versão: Camilo

(Carla Priscila, Maria Dilaine, Ysmara, Simone, Marcilene, Shirlene, Ingride, Angélica, Davidson, Diego e Robin – 202)

Eu, Vilela e Rita, três nomes, uma aventura.

Eu era amigo de Vilela, Vilela seguiu a carreira de magistrado e eu era funcionário público. Meu pai não gostou, ele queria que eu fosse médico, mas ele morreu então eu preferi ser nada até que minha mãe me arranjou um emprego público.Em 1869 meu amigo Vilela voltou da província é casado com uma moça formosa tanto ele abandonou a magistratura e criou um centro de advocacia.Eu lhe arranjei casa ao lado de Botafogo e a bordo fui recebe - los.Rita perguntou como eu estava,estendendo me a mão não imaginava como meu marido era seu amigo;falava sempre do senhor.

Eu e Vilela nos olhamos com ternura, somos amigos deveras, depois eu confessei de mim pra mim que a mulher do meu amigo não desmentia as cartas do marido. Realmente ela era graciosa e vivia nos gestos, olhos que boca fina e interrogativa. Ela era pouco mais velha que nós dois, contava trinta anos. Meu amigo Vilela tinha vinte e nove e eu vinte e seis, entretanto Vilela parecia ser mais velho que a mulher.

Nós nos unimos e a convivência trouxe muita intimidade. Pouco depois minha mãe morreu e com esse desastre Vilela e Rita foram se mostrando grandes amigos, Vilela cuidou do enterro e do inventário e Rita tratou especialmente do coração e ninguém o faria melhor.

Com esse acontecimento o amor chegou e eu nem percebi. A verdade é que eu gostava de passar as horas ao lado dela que era minha enfermeira moral, quase minha irmã, mas ela era principalmente mulher e muito bonita, ela tinha um odor feminino em volta dela. Nós tínhamos os mesmos gostos, íamos juntos ao teatro, aos passeios pela cidade. Eu a ensinei a jogar damas e xadrez, nós jogávamos todas as noites, ela jogava mal e eu pra ser agradável com ela jogava menos mal. Observava as suas ações seus olhos teimosos que procuravam os meus que eu consultava antes de olhar para o marido, as suas mãos frias, suas atitudes eram insólitas.

Um dia eu fazendo aniversário recebi de meu amigo Vilela uma rica bengala de presente e de sua esposa apenas um cartão com um vulgar comprimento a lápis e foi então que eu pude ler no próprio coração e eu não conseguia arrancar os olhos do bilhete, usava palavras vulgares e pelo menos deleitosos e eu quis sinceramente fugir, mas já não pode.Rita foi me cercando me envolvendo todo.Eu fiquei atordoado e subjugado, vexames, sustos, remorsos, desejos tudo senti de misturas.

Um dia eu recebi uma carta anônima que me chamava de imoral e pérfido e disse que a aventura era sabida a todos. Eu tive medo e para desviar suspeitas comecei a rarear as visitas para casa de Vilela.

Eu respondi que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Foi aí que a Rita foi à cartomante. Passando-se as semanas eu recebi mais duas ou três cartas anônimas e tão apaixonado estava que não pude ver a advertência da virtude. Eu fiquei mais sossegado, Rita achava que eu deveria voltar à casa de seu marido, eu divergia, pois aparecer depois de tanto tempo era confirmar a suspeita ou a denúncia, mas valia acautelar sacrificando-me por algumas semanas.

No dia seguinte eu recebi um bilhete de Vilela. ''Vem já a nossa casa, preciso lhe falar sem demora'', era mais de meio dia, eu sai logo. Repetia eu com os olhos no papel ''Vem já, já. Vem logo a nossa casa''. Eu andando inquieto e nervoso. Eu em mim mesmo estimei o obstáculo e inspirei, no final de cinco minutos reparei que ao lado à esquerda ao pé do tílburi que estava estacionado ficava a casa da cartomante a quem Rita consultava, olhei e vi as janelas fechadas quando todas as outras estavam abertas e pejadas de um curioso incidente da rua. Eu me reclinei ao tílburi para não ver nada, a agitação era grande e no fundo ermegia alguns fantasmas, o cocheiro me propôs que eu voltasse e fosse por outro caminho mas não fui, resolvi-me inclina-me mais para ver a cartomante, assim ela foi se desaparecendo e reaparecendo, na rua alguns homens tentavam ajeitarem-se por causa do incidente, gritando “Vai, vai!” e eu, sem pensar, empurrei a porta.

Eu fechava os olhos e pensava em outra coisa, mas minhas pernas queriam entrar eu achei que estava diante de um véu no espaço, pensei rapidamente no inexplicável de tantas coisas, quando dei por mim já estava na porta e rapidamente enfiei-me pelo corredor e subi as escadas. A luz era pouca, os degraus comidos pelos pés, os corrimões pegajosos e eu não vi, nem sentia nada. Comecei a bater uma, duas, três vezes. Assim apareceu uma mulher, era a cartomante, eu disse que queria uma consulta. Daí, subimos ao sótão por uma escada pior do que a primeira e mais escura. Havia uma salinha que dava para o telhado do fundo, um ar de pobreza.

A cartomante fez me sentar diante da mesa e sentou-se ao lado oposto com as costas para janela, abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto embaralhava rapidamente eu olhava para ela. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra com grandes olhos e sensos agudos.

Colocou três cartas sobre a mesa e disse-me:

_Vejamos primeiro o que é que o traz aqui? O senhor tem um grande susto.

A cartomante não sorria dizia-me que esperasse. Pegando outra vez as cartas e eu mantendo os olhos nela curioso e ansioso.

Através das cartas dizia-me:

_Elas declararam-me que não tivesse medo de nada. Que eu ignorasse tudo.

Então, falou-me do amor que me ligava a beleza de Rita e que eu estava deslumbrado com tudo que estava acontecendo.

Ela então levantou sorrindo e disse-me:

_Vá ragazzo innamorato...

E de pé tocou-me com o dedo na testa, eu estremeci e me levantei também. Eu ansioso para sair, não sabia como pagar ou ignorava o preço.

Tirei a carteira e perguntei quanto queria?

Ela me falou que perguntasse ao meu coração.

Eu pensando, tirei uma nota de dez mil reais e dei a ela.

Ela me falava que eu gostava dela e que eu fazia muito bem pois ela também gostava de mim, me falou para ir tranqüilo.

Eu despedi-me dela e achei o tílburi esperando. Tudo parecia melhor, todas as coisas pareciam melhor, todas as coisas me traziam outros aspectos.

Falei ao cocheiro para irmos depressa, pois estava atrasado ao encontro de Vilela.

Lembrado das palavras da mulher “Vá, vá, ragazzo innamorato”. Meu coração ia alegre e impotente. Eu olhei para o mar estendi meus olhos para fora, até onde a água e o céu dava aos braços infinitos e tive uma sensação do futuro.Longo, longo, interminável.Cheguei a casa de Vilela, empurrei o portão de ferro do jardim e entrei,a casa estava silenciosa,subi os seis degraus de pedra e mau tive tempo de bater na porta ela abriu e apareceu Vilela.

Pedi-lhe desculpa por não ter vindo mais sedo?

E meu amigo responde-me fazendo um sinal e fomos para uma saleta interior, entretanto eu não pude sufocar meu grito de terror. Ao fundo sobre o canapé estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-me pela gola, e com dois tiros de revólver estirou-me morto no chão.